sexta-feira, 10 de setembro de 2010

cinza

antes que se completasse o-um ano de existência, a última redação nasce. pra falar de justificativa, não me dobram mais os mesmos termos dessa una persona. e nem as ideias. questões. pontos finais. pra falar de porquês, eu também não os conheço. ou melhor: conheço, mas não quero falar sobre eles. pra falar de expectativa, falo já do pós-scriptum. a última tentativa. nem minha, só. nem só de verónica. se dessa última tacada não restar vida além dos nove meses, prova-se a teoria de deus de que quanto mais infeliz e egoísta o homem, menos anos vive. se sóbria-viver um tiquinho a mais, também não será um letreiro-piscante de falta de fé ou coisa parecida. assim ou assado, talvez seja das mais naturais mis-misantropias. sem planos, acredite! a não ser o de não morrer, ainda.

_________________________________

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

a viagem

ao estado solitário,
um brinde seco
de quem sente que a viagem nos deixa sós.

tudo está tão cheio de amor!
quando meus olhos tremem fechados e meus pêlos arrepiam
é tanto céu quanto terra.
é a viagem que nos deixa sós.

a arte que respira e as vidas cruzadas
e os carpe diem-s regentes
e a inspiração
confortam a viagem que nos deixou sós.

não cabe gritar ao desapego que apareça
ainda que apareça
não carece gritar.
a viagem nos traz sós atrás do que não cabe mais.

canto o transporte imenso dos sentidos
na maior correspondência de almas:
a do sol e da lua.

eu te amo.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sol

era uma vez uma nota. seu nome era Sol, filha de Dó e Fá. quando criança, Sol conhecera muitas notas parecidas com ela, mas nenhuma era igual. Sol tinha um timbre único. por alguns dias, soava-feliz, em outros, era a mais triste de todas as notas. Sol adorava voar pelos parques da cidade, onde havia muitos pássaros que podiam cantá-la com alegria.
num belo dia, Sol meditava à beira de um lago, à sombra de uma árvore lindíssima, quando um bem-te-vi se aproximou, trazendo o mais belo som que Sol havia ouvido até então. Sol chorou de alegria:
- céus! que som belíssimo é esse?! - perguntou ao nada.
Sol chorava e ria sem parar:
- céus...!
- soa comigo, Sol, vamos! soa, Sol! és a mais bela de todas as notas, soa comigo! - disse a nota, sorrindo.
então as duas soaram juntas e voaram juntas.
soaram juntas e voaram juntas por muito tempo, permitindo ao mundo ouvir o som mais encantador de todos os tempos.
um dia, notaram que deveriam se separar. era preciso ouvir o silêncio. e talvez outras notas, combinadas de outra maneira. deveriam entender que não seria possível soar para sempre. antes de se separar de sua nota-gêmea, Sol, que chorava muito, perguntou:
- será que algum dia poderemos soar juntas novamente?
- voa em outros ares, Sol. há tanto pra soar no mundo. há tanto som que precisa de ti...! não te prende a mim.
- jamais conseguirei soar tão bem como com você.
- eu te amo, Sol.
- eu também te amo muito!
- adeus!
- adeus...
então voaram para lados opostos. já de longe, Sol perguntou:
- me diz seu nome?
- eu te amo, Sol! eu te amo! ... meu nome é Sol.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

zoombie

tais devaneios,
acho crus.
vejo um traço só,
impulso.
vejo ânsia de cores que assustam.
não busca.

enjoy the silence porque é o que tem.
melhor enjoy seu silence, quando assim lhe convier.
não?

domingo, 15 de agosto de 2010

she's so heavy

considere os planos. ah, vá, considere os sonhos! considere toda a antecedência. considere o esforço. considere o talento. considere a boa casa. considere sua limpeza. considere as contas pagas. considere os bons cedês. considere o bom filme. considere o corpo. considere o jantar romântico. considere o sexo à luz da lua. considere o bom sono. considere o bom chefe. considere a família. considere os amigos leais. considere os livros. considere as viagens. considere os bons cursos. considere os dias bonitos. considere os resultados. considere o crescimento. considere-amadurecer. considere. considere.considereconsidereconsidere
!
só há uma coisa mais pesada do que não ver mais sentido: auto-piedade.