sexta-feira, 10 de setembro de 2010

cinza

antes que se completasse o-um ano de existência, a última redação nasce. pra falar de justificativa, não me dobram mais os mesmos termos dessa una persona. e nem as ideias. questões. pontos finais. pra falar de porquês, eu também não os conheço. ou melhor: conheço, mas não quero falar sobre eles. pra falar de expectativa, falo já do pós-scriptum. a última tentativa. nem minha, só. nem só de verónica. se dessa última tacada não restar vida além dos nove meses, prova-se a teoria de deus de que quanto mais infeliz e egoísta o homem, menos anos vive. se sóbria-viver um tiquinho a mais, também não será um letreiro-piscante de falta de fé ou coisa parecida. assim ou assado, talvez seja das mais naturais mis-misantropias. sem planos, acredite! a não ser o de não morrer, ainda.

_________________________________

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

a viagem

ao estado solitário,
um brinde seco
de quem sente que a viagem nos deixa sós.

tudo está tão cheio de amor!
quando meus olhos tremem fechados e meus pêlos arrepiam
é tanto céu quanto terra.
é a viagem que nos deixa sós.

a arte que respira e as vidas cruzadas
e os carpe diem-s regentes
e a inspiração
confortam a viagem que nos deixou sós.

não cabe gritar ao desapego que apareça
ainda que apareça
não carece gritar.
a viagem nos traz sós atrás do que não cabe mais.

canto o transporte imenso dos sentidos
na maior correspondência de almas:
a do sol e da lua.

eu te amo.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sol

era uma vez uma nota. seu nome era Sol, filha de Dó e Fá. quando criança, Sol conhecera muitas notas parecidas com ela, mas nenhuma era igual. Sol tinha um timbre único. por alguns dias, soava-feliz, em outros, era a mais triste de todas as notas. Sol adorava voar pelos parques da cidade, onde havia muitos pássaros que podiam cantá-la com alegria.
num belo dia, Sol meditava à beira de um lago, à sombra de uma árvore lindíssima, quando um bem-te-vi se aproximou, trazendo o mais belo som que Sol havia ouvido até então. Sol chorou de alegria:
- céus! que som belíssimo é esse?! - perguntou ao nada.
Sol chorava e ria sem parar:
- céus...!
- soa comigo, Sol, vamos! soa, Sol! és a mais bela de todas as notas, soa comigo! - disse a nota, sorrindo.
então as duas soaram juntas e voaram juntas.
soaram juntas e voaram juntas por muito tempo, permitindo ao mundo ouvir o som mais encantador de todos os tempos.
um dia, notaram que deveriam se separar. era preciso ouvir o silêncio. e talvez outras notas, combinadas de outra maneira. deveriam entender que não seria possível soar para sempre. antes de se separar de sua nota-gêmea, Sol, que chorava muito, perguntou:
- será que algum dia poderemos soar juntas novamente?
- voa em outros ares, Sol. há tanto pra soar no mundo. há tanto som que precisa de ti...! não te prende a mim.
- jamais conseguirei soar tão bem como com você.
- eu te amo, Sol.
- eu também te amo muito!
- adeus!
- adeus...
então voaram para lados opostos. já de longe, Sol perguntou:
- me diz seu nome?
- eu te amo, Sol! eu te amo! ... meu nome é Sol.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

zoombie

tais devaneios,
acho crus.
vejo um traço só,
impulso.
vejo ânsia de cores que assustam.
não busca.

enjoy the silence porque é o que tem.
melhor enjoy seu silence, quando assim lhe convier.
não?

domingo, 15 de agosto de 2010

she's so heavy

considere os planos. ah, vá, considere os sonhos! considere toda a antecedência. considere o esforço. considere o talento. considere a boa casa. considere sua limpeza. considere as contas pagas. considere os bons cedês. considere o bom filme. considere o corpo. considere o jantar romântico. considere o sexo à luz da lua. considere o bom sono. considere o bom chefe. considere a família. considere os amigos leais. considere os livros. considere as viagens. considere os bons cursos. considere os dias bonitos. considere os resultados. considere o crescimento. considere-amadurecer. considere. considere.considereconsidereconsidere
!
só há uma coisa mais pesada do que não ver mais sentido: auto-piedade.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

coisa de filosofia sem preço

outro dia a tentativa-de-discussão do professor foi sobre a coisa. o que é uma coisa? e por que você a reconhece como coisa? essas coisas... um monólogo cheio de perguntas só não mais intrigantes do que suas respostas. foi suado. isso, de saber uns porquês que parecem meio à toa. foi pura filosofia. mas a filosofia de fato, como nasceu, como explicou o outro professor no outro dia: filosofia como pensamento direcionado. que história é essa de achar de filosofar é ficar pensando na vida, assim, sem muita razão senão pensar mesmo? pensar na vida, a gente pensa sempre. no ônibus, na fila-de-alguma-coisa, no mercado. mas é pensamento sem linha do tempo. evapora quando a caixa chama o próximo e fica por isso mesmo. filosofia é justamente sentar e pensar mesmo. com todos os pré-requisitos e argumentos possíveis, em todos os pontos de vista, todos os questionamentos e nem todas as respostas. clichezando, assim, em tom leigo maior, não parece grande coisa, mas descobri que é, sim. falando da coisa, descobri uma ideia que leva a todas elas. o esqueminha em caneta azul por cima dos pentagramas da lousa não vai sair nunca mais da minha cabeça.
do meu lado esquerdo (que ironia!) está o padrão (pattern), que diz respeito a um conceito. do meu lado direito, a matéria (mater), que diz respeito a um objeto.
pois é.
papai e mamãe se unem e têm o filho mais controverso da história:
a coisa.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

será que sara?

foi dito no rodapé que todas as mulheres deveriam se dirigir ao palácio do governo sem sapatos ou meias ou luvas ou gorros. apenas um avental florido deveria cobri-las. os redatores da concorrência não hesitaram em ignorar, ou simplesmente desaperceber inocentemente, como crianças em peça de teatro que se surpreendem de fato com os elementos-surpresa que entram por trás da plateia, a ironia suicida que ali nascia e ali morria, ao engarrafar as letras DEMO em cracia, seguidas pelo mais polêmico ponto de interrogação dos últimos anos.

o encontro se daria às duas da tarde do mesmo domingo em que se lia a bomba. todos deveriam almoçar suas carnes e arrozes e feijões requentados ansiosamente. e ir.

os aventais floridos sumiram das lojas. os orgulhos dos maridos enfiaram a cabeça no buraco do ralo do banheirinho. as bundas de todas as mulheres de todos os lugares reuniram-se, nuas, no mesmo lugar. os rostos abatidos envermelharam-se todos, sérios, lacrimejados. o governo, assustado, após alguns minutos de ruídos desesperados em telefone-sem-fio, mandou todos para casa imediatamente. o jornal, em poucas horas, calou-se para sempre.

finalmente, a primeira notícia do dia, no jornal das seis da manhã, na voz feminina da mulher bem-vestida de cabelos curtos:
"a semana que se segue será a mais agitada de todas: faltam apenas 9 dias para o natal!"

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

maturidade

é tendência dos que já escreveram bíblias e sinfonias maiores e menores
cordas, sopros, percussão até não caber mais nada.
dos que improvisaram sem pausa
suas escaletas sem cor.

:
menos.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

baião de dois

quando te pedem pra tocar qualquer-coisa ao piano e você não sabe tocar nem qualquer-coisa, o piano sai das mãos e vai pras costas.
bate uma coisa dentro, doida.
você fica longe de si, fitando a olhos duros aquelas mãos mais duras ainda.
aí você expulsa a lágrima intrusa com uma pausa bruta. deixe de manha!
sem ar. sem nada.

não mais.

as coisas mudaram por aqui.

terça-feira, 13 de julho de 2010

en-cont(r)o

um longo dia. longas cervejas. boas doses de uma cachaça bem ruim - a única que tinham por lá. minha cabeça rotacionava infinitamente. a noite já era quase-dia e meus pés congelavam. as unhas estavam roxas e meu estômago queria ir pra casa.
- não! eu não acredito em mais nada!
...
- nem em ninguém!
...
- vou pra casa me jogar da varanda! minha cabeça vai espatifar no chão que nem bosta!
- talvez seja melhor você se acalmar. - disse o homem.
- eu vou pra casa me jogar da varandaaaaa! - berrei, vomitando tudo o que havia e que não havia no meu estômago.
o homem limpou tudo do jeito que dava. colocou um pano úmido na minha testa, me cobriu com um cobertor vermelho e me fez tomar um copo d'água.
- deus? é você? - perguntei, apalpando seu rosto negro.
- está melhor, não está?
- deus! é você!
- agora é melhor que vá pra casa dormir.
- sempre soube que você viria. sempre soube que reconheceria seu rosto. minha avó sempre disse que é nas horas mais aflitivas que deus aparece pra te ajudar... que bom que ela tem razão!
- é hora de discernir.
- é hora de dormir, deus, tem toda a razão.
- boa noite.
- boa noite!
meus pés estavam quentes. minha cama estava muito confortável.
estava tudo no seu devido lugar.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

um passo.

enquanto minhas mãos tateiam superfícies-alma
abro os olhos dentro da venda negra
e enxergo arco-íris.
das drogas pesadas, o que penso será a mais intensa delas
e o que sinto, a mais vi-(s)-ceral das vi(-)cerais.
quando vomitar de tanto pensar, presentearei meu corpo com sentimentos sinceros.
é assim que vou seguir.

mas que fique bem claro: minha paciência não é ciência exata.
é arte.

terça-feira, 6 de julho de 2010

non-sense

.
um silêncio que pensa ironizar
dói.
vinga.
mata.
bem dramático, assim.

um silêncio que sempre existiu. o silêncio das tragadas e dos olhares. e dos não-olhares.
um silêncio disfarçado nas conversas. embebido em cervejas. camuflado em conceitos. colorido pelas piadas. ofuscado pelo meu próprio, tão nítido.

um silêncio covarde.

.
e já que a nova-ordem é surpreender assim, desenganando-nos, reforço aos berros, socando os braços em cima da mesa, suando o corpo todo, com o rosto vermelho-sangue e as veias da minha testa saltando sob a pele:
- !

.
não é ironia.
é uma questão de escolha.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

eu desejo

aos que filosofam, um sorriso sincero
aos que suspiram, minha empatia
aos que enraivecem, meu pesar
aos que remoem, um coador
aos que guardam, uma granada
aos que ansiam, boa música
aos que estudam, sol
aos que morrem, um espelho convexo
aos que jogam, amor
aos que disfarçam, luz
aos que atuam, câmera
câmera, uma lata de lixo)
aos que observam, ação
aos que choram, pulmões
aos que desistem, calor
aos aspirantes a, um passo
aos eternos, memórias
aos presentes, eternidade.


e a qualquer ser que se assemelhe a mim em sangue e lágrimas,

detalhes.

domingo, 27 de junho de 2010

minha cara,

pergunto a você, que do sofrimento suga até a alma, que opção resta a quem não quer mais o que faça lembrar e lacrimejar e disfarçar e fechar a porta e então chorar em silêncio? se é que esse respiro existe, que controle tenho sobre ele? e se há poder, em que momento se aplica? que liberdade permeia a vontade? desconheço. por favor, me diga se existe mesmo ou não, porque o meu sofrimento já é quase nome próprio. já não suporto meus suspiros e escritos. tudo soa repetitivo e vitimal. eu não quero mais, minha cara. pode me ensinar o arbítrio-e-ponto? ainda que lhe seja também anônimo...

conscientemente,

quinta-feira, 17 de junho de 2010

a seleção natural

sinto
o presente.
será que isso é bom?
a fluência...
uma passividade sem fim! ("é claro...", ela pensaria)
será que isso é bom?
será que isso importa?
será que é tudo recalque?
será que eu me amo?
será que eu a amo?
será que eu te amo?

é futuro demais pra mim.
prefiro sim.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

uma cegonha e uma pergunta

sabe aquelas cegonhas? isso. as cegonhas que só conhecemos por cegonhas por suas eternas histórias maternas.
sonhei com um bando delas. eram muitas. milhares. tampavam todo o céu com suas penas brancas e seus panos levados nos bicos com alguma coisa dentro.
elas são surpreendentemente silenciosas, sabia? não berram porque estão carregando alguma coisa.
tentei ver o que era. cada cegonha parecia levar algo diferente. estavam muito concentradas. então uma delas saiu do bando e veio em minha direção, voando muito rápido. fiquei assustada. ela pousou com muita calma ao meu lado. deixou seu pano branco com coisa dentro ao seu lado e disse, apontando pra ele:
- sabe o que carrego aqui?
- não. - respondi, tentando não transparecer tanta curiosidade.
- não sabe mesmo?! - indagou irônica, aproximando seu bico baforento do meu rosto.
- não. o que é?
- é a sua alma, minha jovem!
- como é?
- é isso mesmo.
as outras cegonhas ainda voavam acima de nós. eram milhares.
- não entendo.
- o que te contaram sobre nós?
- mentiras.
- como sabe?
- sei que são mentiras. e sei que vocês não existem. e que estou sonhando. e que se você não me responder logo eu posso te matar.
- ora, ora... onde aprendeu a falar assim? parece que não lhe ensinaram a vida como deviam.
- o que você sabe sobre mim?
- sabe o que carrego aqui? - perguntou novamente, apontando novamente para o pano branco ao seu lado.
- sei. a minha alma.
- ora, ora... vocês continuam tolos! - disse, gargalhando, e saiu voando de novo.
deixou o pano branco onde estava.
- ei!
...
que raio de alma é essa?
abri o pano.


que raio de alma é essa?!

terça-feira, 8 de junho de 2010

a prova de piano

eu toquei com todo o afinco e todo o sentimento que me acompanhou desde as pré-parações suadas e com quase toda a segurança que o tal suor supostamente nos dá nessas horas. (daria pra fazer disso tudo uma coisa menor e tornar-me, assim, mais relapsa e ainda mais insegura - como já aconteceu -, mas não foi o caso.)
como todos que se metem com música acabam descobrindo... o que você faz nunca soa bem o suficiente. aliás, quase sempre está bem longe de ser o melhor.
(bom, talvez seja o caso de nos mantermos assim: estudiosos-ansiosos-obsessivos. música não combina com inércia mesmo...!)

depois do conc(s)erto, ouvi conselhos, opiniões, críticas, elogios, filosofias à parte, indagações e interpretações. tudo tão sincero... assim, comovente. uma visão raríssima. valiosíssima. um superlativo completo. ei-lo:

"
gostei muito do que ouvi. mas. alguns pontos são importantes de se comentar...
às vezes sua interpretação, no que se refere ao tempo, especialmente, não fica clara para o ouvinte. uma coisa é quando a gente não segue o tempo à risca. é lindo! faz parte do que você sente com a melodia. outra coisa é quando o rubato rompe a fluência do som. é importante sentir e saber interpretar até o limite desta fluência, certo? outro ponto importante...
as suas ideias, algumas vezes, dão a entender um caminho determinado que deve ser concluído. e quando mais se espera essa conclusão, outra ideia vem por cima, surpreendendo o ouvinte de maneira muito confusa e até mesmo assustadora. entenda... é como num diálogo. imagine tudo o que se toca como se fossem palavras. é preciso concluir uma ideia para começar a falar de outra, senão fica tudo sem pé nem cabeça. o pé que termina uma coisa não é o mesmo pé que começa outra, entende? às vezes sinto que você mal terminou o que fazia ali e já chegou aqui assim, pulando, com os dois pés batendo forte no chão... é preciso caminhar. quanto ao improviso...
eu me perdi. não entendi o seu discurso. senti sílabas soltas que não deram sentido ao texto, sabe? acho que o improviso, para eruditos ou populares, leigos ou não, deve, sempre, surpreender e conduzir o ouvinte numa corrente ininterrupta e agradável de ideias, e não deixá-lo perplexo. no mais...
você tem em mãos uma técnica e um entendimento do instrumento que te permitem crescer ainda mais. aproveite o que tem em mãos com maior consciência. cada nota tem uma intenção. de onde ela vem, onde ela está e pra onde ela quer ir. e assim é com cada pausa. música é feita de som e de silêncio. música é arte feita no tempo. ele é a alma da música. é nele que ela flui, que ela é. a plenitude se alcança no som e no silêncio no lugar certo, na fluência do tempo.
"

é.
música não combina com inércia mesmo...!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

vagarosa

não sei se posso
se tenho moral ou direito
idade
motivo
se está, enfim, nas minhas possibilidades, esse poder
nem sei quem é que vai me apontar a tal lei em alguma cartilha de não-sei-o-quê

o que sei é desse pavio curto aqui
da resposta grosseira
do silêncio feroz
- escudo de aço -
da bolha de 5 metros de diâmetro que me envolve em potência máxima!

é a intolerância.
ela me visita de vez em quando e,
enquanto ela bufa, eu sirvo um chá bem quente. varagosa-
mente.

terça-feira, 1 de junho de 2010

sonho colorido de um jovem poeta

uma saudade imensa
um vinho-bom-vinho
noite fria.

cenário bem-acabado, este. que se encenem as fantasias! - foi o que pensei.
e o que me surpreendeu foi não lembrar de fala alguma
e não ouvir nenhuma outra
qualquer coisa tão conhecida e pálida.

e aí que foi uma noite pintada à óleo
telas imensas, as paredes
e os pêlos macios dos pincéis dançavam e dançavam num pulso só
e o que era pra ser fala virou corpo
ciranda em vestido amarelo-canário
compassos nus, assim
e os pulmões em seus delírios gozosos
e tão sóbrios...!

foi uma noite de arte.

sábado, 29 de maio de 2010

cores-imagens (epílogo)

foi preciso. eu quis. eu procurei e arranjei tudo porque eu ansiava por isso. por ver você e saber e sentir como você está e como está a sua vida. tremi desde o antes-do-começo até a caminhada voluntária da uma e pouco da manhã. pouco consegui falar, como já esperava. e pensei muito. muito, muito. e fui absorvendo a verdade das coisas assim... poro por poro. cada silêncio, uma agulhada no meio da testa. outra no peito. muitas no corpo todo. voltei pra casa com uma agulha em cada dor.
foi preciso. eu quis. eu procurei e arranjei tudo porque eu ansiava pela verdade-da-verdade (não a minha verdade-nada-confiável).
foi preciso.

caminhando e cantando...

terça-feira, 25 de maio de 2010

a essência dos velhos novos.

o pré foi como o planejado: estudado, tocado, errado, consertado, trabalhado, bem-ensaiado. cada segunda-feira, horas e horas de notas e risadas e piadas e alfinetadas e traves e olhares tortos e timbres e andamentos e abobrinhas e altos e baixos em altos e bons tons muito bem arranjados.

arrumação: equipamentos. horários. ligações. saída. estrada. chegada. qual é o nome da avenida mesmo? e o coração
rubato crescendo sem pausa. accelerando!
me passa o cabo? as tomadas aqui são 220, viu?!
cadê meu banquinho? moço, tem como guardar essa mochila aí? nossa, suando! tira um pouco do médio, por favor. alô, som!, ê!, ah!, som!. dá um lá? cuidado com o prato! beleza. certo. uhum. ok, ok. vâmo? vâmo.

os primeiros quatro acordes ainda tremidos. será que estão gostando? merda de reflexo na minha partitura! um sol natural no A7+ da introdução, um
ops! interno, outros externos (risonhos), olhos fechados, uma inspiração profunda e pronto: não havia mais ninguém. estávamos sós. pra cada um, uma função-essência. mãos e pés dançantes. voz alucinante. cada qual com sua guia, nos-guiando-nos numa corrente de nuvens coloridas. olhares cúmplices. sorrisos discretos. temas memoráveis. sensações contínuas. suspiro. cabeça baixa, nota bem-timbrada. olhos fechados. e as nuvens ali, cochichando plenitude nas pausas de semínima... silenciando satisfeitas nas frases bem-colocadas. o gozo. a eternidade. nada na mente. e o mundo acontecendo ali, em cada mão e pé e voz e corpo todo. paz. suspiros infindos. alma.

uma alma só. bordada a sons e silêncios dos mais preciosos: os nossos.

domingo, 23 de maio de 2010

de mim: um quadro.

você pode ouvir falar muita coisa. apreciar a cortesia de quase-todos os dias e querer explorá-la. conversar por uns minutos e querer muitos outros. saber de uma fama daqui e dali e querer provar com as próprias mãos ou língua ou outras partes. sentir um pouco desse silêncio aqui e querer entendê-lo. ouvir um trechinho de uma valsa e querer todos os movimentos de todos os outros sons e tons. ouvir uma piada original e querer rir ainda mais. ver uma beleza única e querer que ela continue única todos os dias restantes. sentir uma firmeza não esperada e querer admirá-la sempre.
devo dar o aviso:
a cortesia é rasa. a conversa não se mantém interessante nos outros muitos minutos. famas são efêmeras. o silêncio é meu regente e não há quem o domine. não sei tocar os outros movimentos em outros tons. só sei uma piada original. a beleza única se deve somente ao que se chama de primeira-visão; ela cansa nas que vêm depois. a firmeza que abre-alas abre para um mundo de insegurança sem disfarce.
eu e os que já ultrapassaram a fronteira podemos recomendar com propriedade: admire o quadro somente até a faixa amarela.

sábado, 22 de maio de 2010

um ano.

22 de maio de 2010.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

de minas

ouvi uma música bem mineira e chorei.
me fez pensar nas reuniões fartas de carnes e cachaças e di-tri-tetra-álogos
e no tamanho dessa coisa toda.
e em todos os meus aniversários mineiros.
nos cigarretes e coxinhas e pães de queijo e doces e bolos incomparáveis
dança e pega-pega e bicicleta e pique-nique e jogos de tabuleiro em dias frios
e roça! pasto, vaca, trilha, pinguela, galinheiro, erosão, mangueira, cavalo, cerca, terreiro de café (procurando um filipe pra ter sorte o ano todo!) e pés imundos e pôr-do-sol.

a felicidade.
quando chego no trevo, já sinto o cheiro de lá. e toda a felicidade me invade e me inspira e inspiro essa paz de olhos fechados. deleite.

logo, logo...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

um outro ensaio sobre o amor.

há canções e poesias e muros pintados e esculturas e cinemas e fotografias e textos como este, tão rasos e repetidos e cansativos e nublados. todos os clichês e todas as artes, enfim. um mundo todo disposto a interrogá-lo. uma legião de surdos-mudos por opção. traumatizados. revoltados! agora é pé no chão! o nunca-mais é meu guia e tudo dará certo. e mergulhamos de novo no que não conhecemos e temos medo de novo de permanecermos cegos - não sei se por opção, ainda - e assim esperamos, na beira da praia, sozinhos-de-fato, com os pés nessa areia que esquenta e esfria tão rápido, uma resposta da maré - que esquenta e esfria bem devagar. ansiamos. cansamos. ansiamos novamente. ("é, pode ser que a maré não vire.") perguntas-aladas (todos sabemos quais são). elas continuam sem resposta. e morrerão perguntas. e viverão perguntas. combustível de pulmões ansiosos como o seu. e o dele também. e o meu e o dela. e o de quem busca um suspiro por dia, que seja. e de quem não se contenta com seu próprio discurso realista e (esse, sim) hipócrita.

vamos chegar a ele sem reivindicações, desejando apenas sua simples presença.
e tornar-nos insustentáveis, como deve e leve ser.

domingo, 16 de maio de 2010

o cu do borba gato

fomefomefome! ali, ó. vamos.
que fila enorme!
ah, não me importo. ... de que material será que ele é feito?
espuma.
tem certeza?
ou isopor, sei lá...
olha só! tem uma porta ali nas costas dele!
não é uma porta!
claro que é! olha o contorno...
não é uma porta!
é, sim!
você acha que cabe ali dentro, então?
do que você tá falando? olha aquela porta ali! nas costas dele.
é o cu dele!
não! ali, na roupa, tipo, nas costas, entendeu?
então é isso? você acha que cabe no cu do borba gato?
hahahahahahahaha
hahahahahahahaha
(e mais e mais hahahás)
eu preciso escrever esse diálogo!
tem que chamar "o cu do borba gato"

próximo!

me vê dois de pizza, por favor.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

um conto no cemitério

havia um maço de cigarro, um caixa-de-dois-fósforos e duas almas.
ali ficaram.
ali padeceram por eternos vinte e poucos minutos.

fogo-fátuo.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

em época de céu azul e vento frio e sol brilhante

eu leio parte de um livro. outro pedaço de outro. anoto no papel reciclado da agenda o esperado encontro em bic azul. uma marca-texto pra ajustar e pronto! eu confirmo um ensaio. eu assino uns cheques pra um presentão que vou me dar em breve - suaves dez prestações e será meu pra sempre. minha pele se arrepia toda. fecho a janela. organizo as oito pastas de música em cima da cama. surpreendo-me olhando o quadro-de-fotos-sem-fotos (uma lá no alto vai de ré a si, mais pra direita, uma semana inteira tabelada e no grande centro, os bonecos que tãojuntos) por quase cinco minutos inteiros (minha nossa!).
- virgínia sempre me encarando. como é expressiva! -
vamos ao que interessa! o dia lá fora é um quadro lindo de se mergulhar.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

atenciosamente...

esta comunicação aqui é uma sala de paredes brancas, móveis brancos e portas brancas. as janelas (que estão fechadas) também são brancas. a secretária é branca e veste um macacão todo branco. não é possível ver seu rosto. as cadeiras que esperam pessoas são brancas. o tapete de entrada é branquinho!
(meus olhos também doem.)
perdoe-me se, depois de tanto tempo em branco (sim?), te procuro assim, em branco.
há dias brancos penso colorido e ainda assim não consigo colorir coisa alguma. tomei coragem, peguei o estojo de lápis-aquarelável de 48 cores e o papel - branco. cores demais, vista embaralhada, e aí escolhi ele: o lápis branco. descobri que ele não é branco! (bom, tem aquela história dos milhares tons de branco, não é? eu acredito.)
perdoe-me se, depois de tanto (sim?) tempo, te procuro assim.
da última vez, derrubei um balde d'água no meu desenho e o que deveria virar tela de aquarela virou arte abstrata-concreta demais. não gostei, então o lápis branco me pareceu menos perigoso dessa vez.
desculpas-em-cores-frias à parte...

quero ver você. sentir você como puder. ouvir você, se lhe convier. papear e rir e silenciar um pouquinho. sabe?
pulso.

domingo, 9 de maio de 2010

uma crise.

falando de devos e achos e sintos e acreditos...
es-se perder me parece tão recíproco...! ninguém saiu com troféu de ouro pra colocar na estante.

é. não teve graça pra ninguém.


quinta-feira, 6 de maio de 2010

maçã amorosíssima

confesso... nunca. nunquinha.
pretendo desvirginar essa boca e essa língua e esse paladar inteiro agora mesmo, nas tantas festas
sanfoneiras e xadrezes e quentonas que estão por vir.
algodão-doce, conheço bem. como muitos outros tolos, como desde criancinha achando o máximo aquele monte de açúcar colorido e
grudento virando pó-zinho mágico dentro da boca, num sumir tão bizarro quanto excitante. até virar metáfora-de-amor em anos tardios. amor que como como muitos outros tolos, achando o máximo aquele monte de açúcar colorido e grudento virando pó-zinho mágico dentro da boca e da língua e do corpo todo, num sumir tão bizarro quanto inevitável.

festas e solidões ainda maiores...! e mais suspiros. penso no que se foi e meus olhos se enchem de lágrimas. penso no aqui, pé no chão, presente e no que está por vir e as lágrimas escorrem feito chuva mesmo. de verão.

vou morder essa maçã com toda a vontade do mundo.

terça-feira, 4 de maio de 2010

pra sempre.

(seu talento permite que o prefácio lhe pertença, é claro)
o tal mundo particular, a poesia, o avesso, os vômitos, as hipnoses, cores e sexos, significados, carnavais, enfim, indecifráveis mesmo por mim, alcançam uma insanidade absurda e real. é. o seu poder me descontrola.

é fantástica.
decor. de-coração-entregue.
entra pelos sete buracos da minha cabeça.
minha dádiva.
é a coisa mais bonita em toda a natureza.
corpo e alma e luz.
obrigada, vida!
lembro-me de lhe ver. e derreter.
dias de sol, de nuvens, de chuva, de lua, de estrelas, de claro ou de escuro... todos os dias.
em paleta de cores infinitas.
coisa que gosto mais que x-tudo!
coisa tão grande, essa, nossa.
chorar-pra-agradecer-mesmo.
nossa sorte.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

sem rugas, só clichês.

hoje eu não quero falar de julgamento nem de compreensão nem do seu lado nem do meu nem de necessidade nem de carência nem de recalque nem de loucura nem de mágoa
minha ou sua
nem de qualquer coisa morta ou fluorescente (uma vez matei um vaga-lume sem saber que era um vaga-lume. bom. mesmo morto, ele brilhava.)
nem do que faz bem ou mal ou nada
nem do que ainda guardo nem do que quero de volta
bens materiais e maus (com "u") e espirituais e gerais também.

falar, nada
nem de vontade
nem um pouco à vontade.

terça-feira, 27 de abril de 2010

uma difi(a)culdade

vez e outra brota aquele ponto de interrogação no meio do compasso. sem falar bonito, é claro... ele berra! como um crianção recém-nascido bem gordo.
escolhemos entrar na academia. não sei se com o receio de cansar as mãos em partituras-sem-fim, ou se com a ilusão certeira de que tocaríamos zeca baleiro ao violão o dia todo - pausa, só pra cerveja. ou se tudo isso junto. ou o contrário. bom. nem um nem outro. (obrigada, caetano)
por muitos dias, guitarras desreguladas ensaiando sambinhas, amadores solfejando lálálás horrendos e muito, muito divertidos. por outros, análises de partituras na biblioteca - que, em bem pouco tempo, viram análises de relógio, de bibliotecárias, de uma moça que acabou de entrar com uma saia rosa-choque. um dia de cabulamento (licença poética) oficial. praia e bicho-de-pé. um dia de sol e lua conduzindo vozes. e uma coisa intercala a outra, e aos poucos a gente se acha e se perde e se acha de novo. caminha ou pára de vez. aquele bebê gordo continua berrando (ele nunca pára). me sinto bem por poder dar a ele o que comer e não ouvir mais nada. claro... se parar de alimentá-lo, abre o berreiro de novo. e não adianta colocar pra dormir. se dormir, morre de vez. e se morrer... barra dupla.

domingo, 25 de abril de 2010

a despedida

seis em ponto da manhã. terminal rodoviário de bagunça e calor. pão de queijo café fumaça perfume barato sol nascente. vestido encardido de flores-sem-cor. braços magrelos, uma mala pesada em cada mão calejada. e não consigo mais descrever precisoparar! o ônibuschegouumabraçodeolhosabertoseumaceno.
e acabou.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

(contra)ponto - ensaio sobre a quinta espécie

a liberdade. e o limite.
aprendi o momento em que tudo é possível, desde que o aprendizado anterior seja mantido. o tempo corre como deseja. o desejo incide como o vento. não se sabe muito bem a hora de prosseguir, de parar, de bloquear, de deixar fluir. simplesmente acontece. aprendi que o efêmero existe. você pode tocá-lo. mas nunca (nunca!) sozinho. ao lado dele, literalmente unido, há outro efêmero. tão efêmero quanto você. tão fraco quanto seu espelho. e não há possibilidade alguma de que esse casamento ocorra em hora errada. é preciso (necessário e exato). não é possível exagerar. tal excesso não soa bem. a cada compasso, um casamento (se lhe soar imprescindível, apenas). se for de sua vontade, prossiga sem união. queira apenas uma. no auge. no fim, que tal? mas jamais (jamais!) conseguirá a mais plena (mesmo que efêmera) união se partir de algo muito distante dela. é preciso seguir devagar. passo a passo. sentir seu cheiro. refletir a seu respeito, para que, com muita segurança, a abrace levemente, sentindo seu pulso fraco, sua presença, até sentir seu fim, enfim. aprendi a prolongar o desagradável. por muito, muito tempo, sentindo cada pontada desta dor, até doer tanto, mas tanto...! que só um desmaio em travesseiro-de-plumas-de-ganso é capaz de curá-la.
aprendi que entre as felicidades podemos viver o desconhecido. o estranho e misterioso silêncio que soa ali, nos contra-auges.
não é possível parar pra sempre. algo deve ser feito antes que o tempo mude tanto que não haja mais saída.
aprendi o eterno retorno. a instância seguida da loucura... novamente, a instância (notando que esta loucura está muito próxima da tão buscada sanidade). aprendi que você pode parar, desde que saiba que tem que voltar... com estilo!
aprendi que tudo é possível, enfim. e que o limite da liberdade é ela mesma.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

e é bom dar um tempo.
de falar ou ler ou comer ou dormir ou o contrário disso tudo.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

estava com uma roupa toda vermelha. vestido vermelho. sapatos (com salto!) vermelhos. unhas vermelho-sangue. bolsa vermelha. até batom vermelho eu usava. era algo como um lançamento de livro, ou qualquer evento meio cult parecido com isso. as pessoas falavam muito, muito. muito alto, ao mesmo tempo, muitos assuntos. eu tentava focar em um deles, mas alguém do outro lado gargalhava mais alto ainda. eu tentava ouvir pra tentar rir também, mas a piada já tinha passado. sobrava o silêncio - a clássica falta de assunto depois-de-rir. havia um casal alemão. só ouvia erres e erres. um grupo de estudantes de algum lugar dos estados unidos. era gente demais. a falta de foco estava me dando tontura. procurei um lugar pra sentar. foi um banquinho azul solitário. mal conseguia segurar a bebida que tinham me dado. estava mesmo muito tonta. não conseguia ouvir mais nada. só um zumbido dentro de mim, bem no fundo. respirei um pouco ali mesmo.
uma mulher andava em minha direção. tinha um rosto de traços muito bem definidos. os olhos um pouco puxados e negros. seu nariz era levemente pontudo e sua boca era simplesmente incrível. estava descalça e vestia uma camisola cor-de-pele quase curta demais. tinha seios marcantes e pernas-de-mulher. meu deus! nunca havia visto pernas como aquelas! ela segurava uma bebida igual à minha. abaixou-se perto do banquinho azul solitário e apoiou sua mão esquerda sobre o meu joelho esquerdo, fitando meus olhos tontos sem desviar um segundo.
- está melhor? - ela perguntou.
- sim. tive sorte em achar esse banquinho azul solitário. - respondi.
- você é uma pessoa de muita sorte! - ela disse, abrindo um sorriso indescritivelmente maravilhoso.
- acho que sim.
ela olhou para o meu corpo inteiro, muito devagar e sorrindo.
- eu realmente não imaginava você com uma roupa dessas, sabia?
- não sei como vim parar aqui.
- quer ir embora?
- na verdade, não.
- talvez seja melhor.
- é. eu sei que seria melhor mesmo. mas não entendo muito bem o porquê.
- beba.
tomei toda a bebida que estava segurando. estava quente e com muito pouco gás. foi péssimo.
fitei os olhos negros por alguns instantes. a tontura havia passado. levantei-me do banquinho azul solitário. ela se pôs de pé também.
- tchau!
- tchau!
no abraçamos por muito tempo. não havia nada na minha cabeça naquele momento.
fui em direção à porta de saída. saí. a noite era quente.
andei um pouco naqueles saltos vermelhos e desmaiei.
foi quando acordei.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

minha cara,

sabia que voltaria a lhe escrever. eu sempre soube.

às dez da manhã de hoje, lá andava eu, na paulista de céu azul de outono de ternos suados (já!) de marmitas socadas de hippies sonados de madames tingidas de empresários cassados de mendigos caçantes. cesariana a 6 graus celsius - paulista de sangue há vinte anos.
minha cabeça não parecia minha. pulsava a cada buzina. as pernas cansadas de tantas campinas, cadê o cume? caos. e tantos outros cês que ainda não se çabe bem os porquês.

é só isso que eu queria dizer.

choro e rio
(sem hierarquia)
sem máscara.

um cara-a-cara inenarrável, minha cara.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

a little more blue than then

já que não é possível dizer "saudade" em inglês, o próprio tom a transviou para a língua de lá - para que jazzistas encantados sentissem o gostinho da bossa-nossa um pouco (mas só um pouco) mais de perto. o que era pra chegar-de-saudade virou no more blues. e o que era negócio de você viver sem mim virou casa construída com mulher pra morar. e o que era molejo dançou assim, durango, em síncopas com alma tercinada. tudo bem. soou doce em doces e rosas vozes. gostei. também gosto do nosso jeitinho-metido-a-sambista torcendo erres de new orleans, enloirando os morenos e acentuados tempos fortes daqui, catando milho por milho do negro e impensado improviso de lá. gosto, sim. de cá e de lá, com corpo delgado com ou sem cor do pecado. o que vale é o que soa e o que deixa de soar.

vale o blues de todo canto.
canto.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

que horas são?

embriago-me
de sons, de tempos, de escritos, de lidos, de ouvidos, de sonos, de tédios, de nervos, de ânsias, de medos, de certos, de quases, de nadas, de dores, de porquês, de nãos, de sabores, de sonhos, de mãos-vazias, de mil-lágrimas, de olhos-fechados, de sorrisos, de quereres, de cores, de opacos, de cinzas, de passados, de vontades, de egos, de alter-egos, de unhas-roídas, de fomes, de gulas, de espelhos, de rotinas, de horários, de trilhas, de ensaios, de outros, de esperas, de nuvens, de fins, de tal-vezes, de mins-em-fim.

embriago-me sem parar.
não há ressaca. há a embriaguez do silêncio. doses homéricas de silêncio sem gelo.
inspiro .

sexta-feira, 26 de março de 2010

parece quadro de arte abstrata
sabe?
até ouso opinar sobre a beleza ou o sentido
mas a verdade é que não é belo
nem faz sentido.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

acredito no que se sente e no que se segue a partir daí. o que se observa e se deduz. não duvido ou julgo mal. eu também sinto e observo e deduzo coisas-outras. por vezes opostas. e se ainda assim nada parece verdade-absoluta, entrego-me ao que penso, sem pára-quedas reserva. tento ver céu-azul em dias-são paulo. e quando ainda assim não vejo nada, entrego-me ao que sinto, sem pára-quedas algum. e o que sinto é a verdade-absoluta. é o amor-cubo-mágico. cores-todas - mesmo aquele cinza daquele céu encoberto - porque há o que cobrir.
e há o que des-cobrir
que não é resolver porque não há conflito.
há tempo
e nuvens
e sol
e arco-íris.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

tique-taque

um poder que não me pertence.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

jeito-certo é amor platônico. eu mesma invento. eu mesma dou o banho. eu mesma visto. eu mesma passo toda a maquiagem. eu mesma escolho o salto agulha (não é um perigo?). eu mesma sirvo de espelho. eu mesma apareço assim, linda. eu mesma chamo a atenção. eu mesma empino o nariz e me faço brilhar. eu mesma me sirvo do espumante. eu mesma procuro por conhecidos. eu mesma vou até o centro do salão. eu mesma tropeço no tapete vermelho. eu mesma rasgo o vestido todinho. eu mesma deixo aparecer a calcinha remendada. eu mesma mal consigo me levantar. eu mesma viro o centro de tudo, de todas as risadas, de toda a vergonha. eu mesma fecho os olhos. eu mesma choro sozinha. eu mesma enxugo as lágrimas de criança. eu mesma abro os olhos, enfim.
eu mesma acordo todos os dias aliviada por pensar que ele não é nem matéria. até que penso no dia-a-dia e no amor, e a criação entra em cena.

como se nada tivesse acontecido.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

pequeno ensaio de uma alma

é sobre níveis de consciência. o ego, o ap-ego, o corpo e suas frustrações. o que está além e não se pode nem dizer que "está", porque é mesmo além. tão difícil explicar quanto entender. a nível mental, não se dá compreensão alguma. no intuitivo, sim... é onde entendimento não depende de razão. chamaria isso de libertação (ou quase). se essa linguagem crua não trouxesse limites, talvez. mas é o que está ao alcance. não é conformismo. é o que uma mente chama de fato. e o que chamo de meta é a evolução máxima de um ego tão -ísta quanto todos os outros: o meu.

domingo, 24 de janeiro de 2010

levantei, já eram duas e pouco. as horas dormidas não foram tantas assim. foi uma noite de milagre.
as perguntas têm o tempo das moscas? e pra cada resposta-silêncio, uma porrada.
vomito, porque falar é muito mais difícil.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

a pobreza (prólogo)

procurei um bom livro. folheava todos eles, talvez buscando aquele poder de ler na velocidade da luz. não tive sucesso algum. nem achei o bom livro. devo admitir que era só uma distração, algo como concretizar-um-problema, sabe como é?
pois é, você vê? este é meu grande problema! não consigo achar um bom livro pra ler!
... e, quando alguém indica um, faço cara de interessada, digo algo como "vou até anotar" e esqueço em mais uns segundos. note que o problema não é um livro. há muitos deles. incríveis. ao menos notáveis.
rezo diariamente para que seja um sintoma daquela mesma felicidade clandestina que li outro dia. um verdadeiro bom conto. rezo sempre, porque se for sintoma de coisa mais grave, talvez prefira morrer sem saber.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

perguntei a todos eles:
- que horas são?

foram unânimes no conselho.
só não acho que meu fígado ainda deseje se embriagar sem parar.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

o céu chorou o dia todo. uma ou outra pausa pro leite com nescau, e lá estava ele aos prantos novamente. não cansa. como cansa...!

tento enumerar os erros. catalogá-los, talvez. classificá-los (por ordem de não-sei-o-quê). é beco sem saída. fecho e abro os olhos. estou no mesmo lugar. a cabeça já é dada como desaparecida. adolescente, revolta, e que causa? voilà! ... descubro-me juíza e ré. e a mente, que não me deixa em paz? céus...! não quero acho-espero-tomara nem será?. quero o silêncio que é inspiração. respiração. não encontro o ar nem sinto a fome. cadê? o que meu corpo tem a dizer disso tudo? silêncio.

quando a fome aperta, sinto a força. nada é mais suculento do que imaginar sua morte lenta e dolorosa. ufa! uma pratada. o movimento mecânico e cego. pena de morte já sabida. e então, o luto: nem cheiro de tempero posso sentir. nem passar os olhos pelo que restou daquele banquete é possível. o corpo o rejeita aos berros! o que era desejo se veste num quase-nojo cheio de bordados e brilhantes. brindemos à ironia!

não disfarço o sentido figurado. a figura é bem clara. a linguagem é a mesma: é o processo abstrato e sólido da dor (que poder tem a convicção?). aos prantos, toda dor vem bem-vestida. os mesmos bordados e brilhantes. não consigo olhá-los por mais de alguns segundos. quase vomito. sumam! maldito gerúndio-de-sofrer. maldita mania (minha, sim, já não culpo ninguém) de emoldurar tais aviamentos toda vez que aparecem, em vez de ignorá-los e ponto. nessas horas não há cegueira. há olhos embaçados e só. resta saber se as plumas e paetês da vez também foram, um dia, desejos mal-vestidos, como aqueles, de comer, suculentos e cegos. em absoluto, não.

o que aquele compositor disse outro dia é verdade que faço caber a mim:
vaidade é mesmo droga pesada.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

cigarros em trigos

reunião de família. páscoa, ou coisa assim. calor. quanta comida, meu deus! televisão ligada pra ninguém (talvez pro primo tímido, ou "autista opcional", como escorreriam aqueles pequenos venenos). três ou quatro tias na cozinha, diálogos indecifráveis. as crianças mais novas no centro de gravidade. a empregada, de lá pra cá, sua muito. e eu sentada no sofá em busca de respostas plausíveis para o que chamo de uma idéia a se pensar: o silêncio.

falávamos sobre a insegurança e seus relativos. o que é fato, o que é verdade, o mutável e o morto. coisas assim, que pensamos sempre (até começarmos a suar tanto!, mas tanto! que acordamos assustados). foram mais umas boas idéias. alimento para todas as outras enquanto eu respirar.
e em cada pausa, um cigarro.

creio apenas em segredos. desses pequenos e de verdade. não segredos-bolha-de-sabão (como aquelas verdades lá...). segredos-vapor. existem. calam.

um cigarro é um silêncio.

tragada-segredo
(um embrião de trava-língua)

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

o parto

o ar começa a entrar.
rasga os pulmões.
choro.

modestamente