quarta-feira, 30 de junho de 2010

eu desejo

aos que filosofam, um sorriso sincero
aos que suspiram, minha empatia
aos que enraivecem, meu pesar
aos que remoem, um coador
aos que guardam, uma granada
aos que ansiam, boa música
aos que estudam, sol
aos que morrem, um espelho convexo
aos que jogam, amor
aos que disfarçam, luz
aos que atuam, câmera
câmera, uma lata de lixo)
aos que observam, ação
aos que choram, pulmões
aos que desistem, calor
aos aspirantes a, um passo
aos eternos, memórias
aos presentes, eternidade.


e a qualquer ser que se assemelhe a mim em sangue e lágrimas,

detalhes.

domingo, 27 de junho de 2010

minha cara,

pergunto a você, que do sofrimento suga até a alma, que opção resta a quem não quer mais o que faça lembrar e lacrimejar e disfarçar e fechar a porta e então chorar em silêncio? se é que esse respiro existe, que controle tenho sobre ele? e se há poder, em que momento se aplica? que liberdade permeia a vontade? desconheço. por favor, me diga se existe mesmo ou não, porque o meu sofrimento já é quase nome próprio. já não suporto meus suspiros e escritos. tudo soa repetitivo e vitimal. eu não quero mais, minha cara. pode me ensinar o arbítrio-e-ponto? ainda que lhe seja também anônimo...

conscientemente,

quinta-feira, 17 de junho de 2010

a seleção natural

sinto
o presente.
será que isso é bom?
a fluência...
uma passividade sem fim! ("é claro...", ela pensaria)
será que isso é bom?
será que isso importa?
será que é tudo recalque?
será que eu me amo?
será que eu a amo?
será que eu te amo?

é futuro demais pra mim.
prefiro sim.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

uma cegonha e uma pergunta

sabe aquelas cegonhas? isso. as cegonhas que só conhecemos por cegonhas por suas eternas histórias maternas.
sonhei com um bando delas. eram muitas. milhares. tampavam todo o céu com suas penas brancas e seus panos levados nos bicos com alguma coisa dentro.
elas são surpreendentemente silenciosas, sabia? não berram porque estão carregando alguma coisa.
tentei ver o que era. cada cegonha parecia levar algo diferente. estavam muito concentradas. então uma delas saiu do bando e veio em minha direção, voando muito rápido. fiquei assustada. ela pousou com muita calma ao meu lado. deixou seu pano branco com coisa dentro ao seu lado e disse, apontando pra ele:
- sabe o que carrego aqui?
- não. - respondi, tentando não transparecer tanta curiosidade.
- não sabe mesmo?! - indagou irônica, aproximando seu bico baforento do meu rosto.
- não. o que é?
- é a sua alma, minha jovem!
- como é?
- é isso mesmo.
as outras cegonhas ainda voavam acima de nós. eram milhares.
- não entendo.
- o que te contaram sobre nós?
- mentiras.
- como sabe?
- sei que são mentiras. e sei que vocês não existem. e que estou sonhando. e que se você não me responder logo eu posso te matar.
- ora, ora... onde aprendeu a falar assim? parece que não lhe ensinaram a vida como deviam.
- o que você sabe sobre mim?
- sabe o que carrego aqui? - perguntou novamente, apontando novamente para o pano branco ao seu lado.
- sei. a minha alma.
- ora, ora... vocês continuam tolos! - disse, gargalhando, e saiu voando de novo.
deixou o pano branco onde estava.
- ei!
...
que raio de alma é essa?
abri o pano.


que raio de alma é essa?!

terça-feira, 8 de junho de 2010

a prova de piano

eu toquei com todo o afinco e todo o sentimento que me acompanhou desde as pré-parações suadas e com quase toda a segurança que o tal suor supostamente nos dá nessas horas. (daria pra fazer disso tudo uma coisa menor e tornar-me, assim, mais relapsa e ainda mais insegura - como já aconteceu -, mas não foi o caso.)
como todos que se metem com música acabam descobrindo... o que você faz nunca soa bem o suficiente. aliás, quase sempre está bem longe de ser o melhor.
(bom, talvez seja o caso de nos mantermos assim: estudiosos-ansiosos-obsessivos. música não combina com inércia mesmo...!)

depois do conc(s)erto, ouvi conselhos, opiniões, críticas, elogios, filosofias à parte, indagações e interpretações. tudo tão sincero... assim, comovente. uma visão raríssima. valiosíssima. um superlativo completo. ei-lo:

"
gostei muito do que ouvi. mas. alguns pontos são importantes de se comentar...
às vezes sua interpretação, no que se refere ao tempo, especialmente, não fica clara para o ouvinte. uma coisa é quando a gente não segue o tempo à risca. é lindo! faz parte do que você sente com a melodia. outra coisa é quando o rubato rompe a fluência do som. é importante sentir e saber interpretar até o limite desta fluência, certo? outro ponto importante...
as suas ideias, algumas vezes, dão a entender um caminho determinado que deve ser concluído. e quando mais se espera essa conclusão, outra ideia vem por cima, surpreendendo o ouvinte de maneira muito confusa e até mesmo assustadora. entenda... é como num diálogo. imagine tudo o que se toca como se fossem palavras. é preciso concluir uma ideia para começar a falar de outra, senão fica tudo sem pé nem cabeça. o pé que termina uma coisa não é o mesmo pé que começa outra, entende? às vezes sinto que você mal terminou o que fazia ali e já chegou aqui assim, pulando, com os dois pés batendo forte no chão... é preciso caminhar. quanto ao improviso...
eu me perdi. não entendi o seu discurso. senti sílabas soltas que não deram sentido ao texto, sabe? acho que o improviso, para eruditos ou populares, leigos ou não, deve, sempre, surpreender e conduzir o ouvinte numa corrente ininterrupta e agradável de ideias, e não deixá-lo perplexo. no mais...
você tem em mãos uma técnica e um entendimento do instrumento que te permitem crescer ainda mais. aproveite o que tem em mãos com maior consciência. cada nota tem uma intenção. de onde ela vem, onde ela está e pra onde ela quer ir. e assim é com cada pausa. música é feita de som e de silêncio. música é arte feita no tempo. ele é a alma da música. é nele que ela flui, que ela é. a plenitude se alcança no som e no silêncio no lugar certo, na fluência do tempo.
"

é.
música não combina com inércia mesmo...!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

vagarosa

não sei se posso
se tenho moral ou direito
idade
motivo
se está, enfim, nas minhas possibilidades, esse poder
nem sei quem é que vai me apontar a tal lei em alguma cartilha de não-sei-o-quê

o que sei é desse pavio curto aqui
da resposta grosseira
do silêncio feroz
- escudo de aço -
da bolha de 5 metros de diâmetro que me envolve em potência máxima!

é a intolerância.
ela me visita de vez em quando e,
enquanto ela bufa, eu sirvo um chá bem quente. varagosa-
mente.

terça-feira, 1 de junho de 2010

sonho colorido de um jovem poeta

uma saudade imensa
um vinho-bom-vinho
noite fria.

cenário bem-acabado, este. que se encenem as fantasias! - foi o que pensei.
e o que me surpreendeu foi não lembrar de fala alguma
e não ouvir nenhuma outra
qualquer coisa tão conhecida e pálida.

e aí que foi uma noite pintada à óleo
telas imensas, as paredes
e os pêlos macios dos pincéis dançavam e dançavam num pulso só
e o que era pra ser fala virou corpo
ciranda em vestido amarelo-canário
compassos nus, assim
e os pulmões em seus delírios gozosos
e tão sóbrios...!

foi uma noite de arte.