terça-feira, 10 de agosto de 2010

será que sara?

foi dito no rodapé que todas as mulheres deveriam se dirigir ao palácio do governo sem sapatos ou meias ou luvas ou gorros. apenas um avental florido deveria cobri-las. os redatores da concorrência não hesitaram em ignorar, ou simplesmente desaperceber inocentemente, como crianças em peça de teatro que se surpreendem de fato com os elementos-surpresa que entram por trás da plateia, a ironia suicida que ali nascia e ali morria, ao engarrafar as letras DEMO em cracia, seguidas pelo mais polêmico ponto de interrogação dos últimos anos.

o encontro se daria às duas da tarde do mesmo domingo em que se lia a bomba. todos deveriam almoçar suas carnes e arrozes e feijões requentados ansiosamente. e ir.

os aventais floridos sumiram das lojas. os orgulhos dos maridos enfiaram a cabeça no buraco do ralo do banheirinho. as bundas de todas as mulheres de todos os lugares reuniram-se, nuas, no mesmo lugar. os rostos abatidos envermelharam-se todos, sérios, lacrimejados. o governo, assustado, após alguns minutos de ruídos desesperados em telefone-sem-fio, mandou todos para casa imediatamente. o jornal, em poucas horas, calou-se para sempre.

finalmente, a primeira notícia do dia, no jornal das seis da manhã, na voz feminina da mulher bem-vestida de cabelos curtos:
"a semana que se segue será a mais agitada de todas: faltam apenas 9 dias para o natal!"