quinta-feira, 15 de abril de 2010

estava com uma roupa toda vermelha. vestido vermelho. sapatos (com salto!) vermelhos. unhas vermelho-sangue. bolsa vermelha. até batom vermelho eu usava. era algo como um lançamento de livro, ou qualquer evento meio cult parecido com isso. as pessoas falavam muito, muito. muito alto, ao mesmo tempo, muitos assuntos. eu tentava focar em um deles, mas alguém do outro lado gargalhava mais alto ainda. eu tentava ouvir pra tentar rir também, mas a piada já tinha passado. sobrava o silêncio - a clássica falta de assunto depois-de-rir. havia um casal alemão. só ouvia erres e erres. um grupo de estudantes de algum lugar dos estados unidos. era gente demais. a falta de foco estava me dando tontura. procurei um lugar pra sentar. foi um banquinho azul solitário. mal conseguia segurar a bebida que tinham me dado. estava mesmo muito tonta. não conseguia ouvir mais nada. só um zumbido dentro de mim, bem no fundo. respirei um pouco ali mesmo.
uma mulher andava em minha direção. tinha um rosto de traços muito bem definidos. os olhos um pouco puxados e negros. seu nariz era levemente pontudo e sua boca era simplesmente incrível. estava descalça e vestia uma camisola cor-de-pele quase curta demais. tinha seios marcantes e pernas-de-mulher. meu deus! nunca havia visto pernas como aquelas! ela segurava uma bebida igual à minha. abaixou-se perto do banquinho azul solitário e apoiou sua mão esquerda sobre o meu joelho esquerdo, fitando meus olhos tontos sem desviar um segundo.
- está melhor? - ela perguntou.
- sim. tive sorte em achar esse banquinho azul solitário. - respondi.
- você é uma pessoa de muita sorte! - ela disse, abrindo um sorriso indescritivelmente maravilhoso.
- acho que sim.
ela olhou para o meu corpo inteiro, muito devagar e sorrindo.
- eu realmente não imaginava você com uma roupa dessas, sabia?
- não sei como vim parar aqui.
- quer ir embora?
- na verdade, não.
- talvez seja melhor.
- é. eu sei que seria melhor mesmo. mas não entendo muito bem o porquê.
- beba.
tomei toda a bebida que estava segurando. estava quente e com muito pouco gás. foi péssimo.
fitei os olhos negros por alguns instantes. a tontura havia passado. levantei-me do banquinho azul solitário. ela se pôs de pé também.
- tchau!
- tchau!
no abraçamos por muito tempo. não havia nada na minha cabeça naquele momento.
fui em direção à porta de saída. saí. a noite era quente.
andei um pouco naqueles saltos vermelhos e desmaiei.
foi quando acordei.